domingo, 21 de septiembre de 2008

As paredes de Miró


Entrei nas entranhas de Miró. Invadi seu espaço, vi sua roupa de trabalho (macacões cheios de tintas), sua sujeira, suas telas inacabadas, as ferramentas que usava para ferir o metal que deixava marcado o papel.

Vi sua agonia rabiscada nas paredes. Suas escadas, seus bonecos vodoos, as fotos pregadas nas portas, seus peixes quase mortos. Vi as teias de aranha de Miró, suas tintas secas, seus jornais amarelados. Me sentei com Miró no seu jardim de pinhos secos, de frutas duras e ásperas, para lermos seus jornais amarelados, depois pintamos sobre eles.



Antes de entrar no mundo Miró, achava feliz suas estrelas, céus e constelações, passarinhos. Achava que vivia numa Mallorca feliz, essa ilha dos sonhos. Mas depois que cheguei muita coisa mudou em mim e em Miró. Ele descubriu que o impacto da tinta preta sobre o papel gelo é maior que suas cores felizes. Destruiu muitas pinturas e desenhos por isso. Passou a desenhar mais que pintar - esboços, traços, rabiscos em folhas soltas, em cadernos, em papéis ásperos, em telas queimadas, em tapetes do século XIX, em paredes brancas, sobre anúncios de jornais.


Retomar o simples era evoluir: buscar o esqueleto, o porquê, o devir, o mais difícil. Nos anos 60, Miró cresceu e fez o que toda a gente que cresce faz: desenhos de menino.

Decidi ter um caderno de desenhos. Livre das pautas.

1 comentario:

Junior Bellé dijo...

Bonito isso. Por favor, me livre das pautas também.