Entrei nas entranhas de Miró. Invadi seu espaço, vi sua roupa de trabalho (macacões cheios de tintas), sua sujeira, suas telas inacabadas, as ferramentas que usava para ferir o metal que deixava marcado o papel.
Antes de entrar no mundo Miró, achava feliz suas estrelas, céus e constelações, passarinhos. Achava que vivia numa Mallorca feliz, essa ilha dos sonhos. Mas depois que cheguei muita coisa mudou em mim e em Miró. Ele descubriu que o impacto da tinta preta sobre o papel gelo é maior que suas cores felizes. Destruiu muitas pinturas e desenhos por isso. Passou a desenhar mais que pintar - esboços, traços, rabiscos em folhas soltas, em cadernos, em papéis ásperos, em telas queimadas, em tapetes do século XIX, em paredes brancas, sobre anúncios de jornais.
Retomar o simples era evoluir: buscar o esqueleto, o porquê, o devir, o mais difícil. Nos anos 60, Miró cresceu e fez o que toda a gente que cresce faz: desenhos de menino.
Decidi ter um caderno de desenhos. Livre das pautas.
1 comentario:
Bonito isso. Por favor, me livre das pautas também.
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